terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

2 anos de quê?

Agora em janeiro completou 2 anos que estou trabalhando na cozinha e dois do Indo pra Cozinha. Parece que tem muito mais tempo, afinal, como raramente temos folgas os dias e as experiências são bem mais intensas. Então, acho que nada mais justo que eu parar um pouco para avaliar como foi todo este tempo e o que eu vi e vivi neste tempo. 

Vi muita coisa: restaurantes e cozinhas mega estruturadas, restaurantes que atrasam pagamentos e não valorizam em nada seus funcionários, pessoas apaixonadas pelo o que fazem e se divertem em uma cozinha, pessoas que estão ali trabalhando sem paixão alguma ou dom, mas que precisam de um emprego; pessoas que amam a cozinha, mas que desistiram desse sonho em virtude das condições de trabalho e baixos salários. Vi muito mais coisas, mas também já comentei isto em outros posts.

Vivi muito também: conheci pessoas maravilhosas, outras nem tanto, trabalhei como um condenado em férias e feriados, aprendi trocentos pratos e técnicas diferentes, me cortei horrores, me queimei e ainda hoje me queimo quase que semanalmente rs, fiquei algumas semanas sem nenhuma folga e dobrando constantemente, virei noites na farra após dias loucos e estressantes na cozinha e fui trabalhar direto, ri muito, aprendi muito, descobri um outro lado meu, briguei, xinguei, chorei, achei que não era capaz de enfrentar tanta mudança na vida e que também não tinha condições de trabalhar em uma cozinha.

Mas, tudo passa e estou aqui indo para meu terceiro ano na cozinha. Feliz? Sim, com certeza, não trocaria minha vida, quer dizer, talvez eu começaria mais cedo nesta carreira. Realmente amo muito a cozinha e o ambiente de restaurantes e é algo que quero para minha vida. 

Não posso ser hipócrita e falar que tudo nesta vida é lindo e que eu sou a pessoa mais feliz neste mundo, também não é assim. Tenho algumas crises, decepções, ainda não consigo acreditar porque se paga tão pouco para os funcionários da cozinha e tanto para os garçons hahaha, como alguns patrões valorizam pouco ou quase nada sua brigada de cozinha. PorraRalamos pra carai, criamos, executamos, planejamos e quem serve a nossa comida e atende é que leva a grana? Não tiro o mérito dos garçons, jamais faria isso, mas as pessoas vão até um restaurante é para comer e, consequentemente, serem bem atendidas. Então, show me the money!!!

Muitas pessoas me perguntam o que eu espero do futuro com a Copa do Mundo, Olimpíadas, valorização da profissão, crescimento da gastronomia etc. Realmente a tendência é que tudo melhore, a cada dia abre um restaurante novo em algum lugar e estes lugares não estão sendo ocupados por cozinheiros de prática, eles querem pessoas estudadas, que falem outras línguas, que conheçam diferentes tipos de culinária e técnicas diferentes. Mas o problema não são estes grandes eventos, o problema é o que fazer depois deles. Será que este tanto de hotéis, restaurantes, bares, gastropubs, etc terão demanda o suficiente para funcionar? Então, depois desse boom talvez nossa profissão seja ainda mais mal paga, porque profissional para trabalhar é o que não vai faltar. 

O número de restaurantes que abrem é diretamente proporcional ao número de restaurantes que fecham por má administração e outras questões. Tem muito "empresário" achando que é fácil administrar um negócio neste segmento, que é só abrir as portas que os clientes brotam, que vão lucrar no primeiro ano de negócio, que receberam uma graninha e vão investir neste "sonho". O jogo não funciona assim, meu caro. Também é preciso muita paixão e dedicação para administrar um restaurante. 

Se você já mandou e-mail para mim pedindo conselhos e dicas de como enfrentar a cozinha ou trocar de carreira, sabe muito bem meu discurso: não é tudo tão lindo, tem que gostar mesmo, ralamos mesmo, o clima é tenso e quente, se planeje, faça uma pé de meia antes bla bla bla Meu discurso não muda e talvez nunca mude. O que precisa mudar é mentalidade de muitos restaurateurs/administradores.

Abraços comemorativos,

Felipe Tavares

8 comentários:

ju disse...

Ter paixão pelo que se faz já é meio caminho andado para o sucesso. E você está nesse caminho. Siga em frente! Apenas pense um pouco na sua saúde e bem estar.
saudades de você.

Unknown disse...

Acompanhando de perto sua vida profissional, palestino, eu te parabenizo pela coragem de ter feito uma mudança tão grande em sua vida. É tão admirável quanto incompreensível rsrs...
Só um detalhe: garçons ganham apenas um salário mínimo do patrão...

Felipe Tavares disse...

Ju,

Realmente tenho uma paixão mesmo, virou minha cachaça kkk

Quanto à saúde, depois do susto, vida nova, novas metas, bem mais saudáveis!!


Arthur,

Pára de colocar comentário como anônimo kkk
Valeu por tudo, tamo junto sempre parceiro!!!
Ah, não importa quem ganha mais, só sei que esse dinheiro não passa pela cozinha uhahuahu

MacCrow disse...

Cara to na mesma que você. COmecei esse ano e me arrependo muito de não ter começado antes.

O problema da eterna briga entre sala x cozinha foi uma surpresa e ninguém avisou ehehehehe.

Enfim, como disse, o trabalho é tão intenso que parece que estou trabalhando a muito mais tempo do que realmente estou.

[ ]s

COM NELIO NA COZINHA disse...

cada dia que passa amo mais vc amigo,continue com esta paixão pela cozinha.precisamos de chefs assim

Felipe Tavares disse...

MacCrow,
Essa vida nossa não é nada fácil né? Vc é de onde?

Nélio,
Vc é meu mentor, não tenho o que falar, grande parte do que sou e do que faço, aprendi com vc, meu irmão!

Abraços

MacCrow disse...

Opa Felipe,

Sou de sp e trampo num espanhol.

Felipe Tavares disse...

MacCrow,

Bacana, adoro comida espanhola!!

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